Pontoporia blainvillei é o nome científico de um pequeno golfinho conhecido como "Franciscana". No Brasil, a espécie é conhecida popularmente por Toninha, entretanto, variações regionais incluem outros nomes como, por exemplo, "manico" e "boto-cachimbo".
Franciscana é o nome comum utilizado em países de língua espanhola onde a espécie ocorre. Sua distribuição está restrita às águas costeiras do Brasil, Uruguai e Argentina e é a espécie de golfinho mais ameaçada, principalmente devido às capturas acidentais em redes de pesca.
Apesar das variações regionais no tamanho, seu comprimento máximo está em torno de 1,7m.
Apresenta um rostro (bico) extremamente longo e com aproximadamente 200 pequenos dentes. A coloração cinza-acastanhada dificulta o contraste com a água turva da região costeira.
Também são tímidos, não se aproximam das embarcações, apresentam comportamento discreto de subida à superfície para respirar, não executam saltos como outros golfinhos e, sendo assim, raramente são observadas na natureza. Geralmente formam grupos pequenos de 2 a 5 indivíduos que estudos genéticos mostraram serem muitas vezes famílias.
A Toninha ocorre desde Itaúnas (18°25'S), Estado do Espírito Santo, Brasil, até o Golfo San Matias (~42°S), Província de Chubut, na Argentina. Habita preferencialmente águas rasas com profundidade inferior a 50m e alguns estuários.
A sua distribuição não é contínua. Entre Regência, ES (19°40'S) e Barra do Itabapoana, RJ (21°18'S), e entre Macaé (22°25'S) e a Baía da Ilha Grande (23°S), no RJ a toninha é, aparentemente, ausente.
Conhecer o tamanho das populações de Toninhas é fundamental para sua conservação. As estimativas são feitas de barco ou com pequenos aviões bimotores voando em baixas altitudes.
Estes estudos já foram realizados no Rio Grande do Sul e na FMA II. As estimativas indicam que as populações são pequenas e, portanto, muito vulneráveis às capturas acidentais em redes de pesca.
Na Baia da Babitonga, localizada no litoral norte de Santa Catarina, as Toninhas são avistadas ao longo de todo ano e a bordo de pequenas embarcações a população foi estimada em 50 animais.
A Toninha é uma das espécies com ciclo de vida mais curto entre os cetáceos e estudos sobre a biologia da espécie indicam que a maturidade sexual é atingida quando os animais possuem por volta de 2 a 4 anos de idade, havendo pouca diferença na idade de maturação entre os machos e fêmeas. A idade máxima conhecida é de 21 anos. As fêmeas dão a luz a um filhote a cada um ou dois anos. O período de gestação dura em torno de 11 meses e o comprimento, ao nascer, varia entre 70 e 80 cm. O tempo de lactação pode chegar a 9 meses e os nascimentos ocorrem predominantemente na primavera e verão.
A Toninha alimenta-se de uma ampla variedade de presas, com cerca de 80 itens já registrados como parte de sua dieta no Brasil, Uruguai e Argentina. A alimentação da espécie é composta principalmente por pequenos peixes ósseos e lulas de regiões estuarinas e costeiras. A ingestão de alimento sólido provavelmente inicia quando as Toninhas possuem 2-3 meses de idade e 75-80 cm de comprimento, fase em que os camarões são importantes componentes da dieta. Variações sazonais já foram registradas na dieta, acompanhando a disponibilidade das presas nestas áreas.
A depleção dos estoques pesqueiros também pode causar variações na dieta das Toninhas. Por exemplo, registros históricos de captura comercial de peixes têm demonstrado um declínio no desembarque anual da corvina (Micropogonias furnieri), e da pescadinha real (Macrodon ancylodon) no sul do Rio Grande do Sul. Isto é consistente com uma redução na ocorrência dessas duas espécies na dieta da Toninha. Por outro lado, a frequência de ocorrência do peixe-espada, Trichiurus lepturus, e da castanha, Umbrina canosai, aumentou na dieta da Toninha de cerca de 5% e 3%, no final dos anos 1970, para aproximadamente 39% e 20%, respectivamente, em meados dos anos 1990. Enquanto a pescada sempre foi uma presa importante para a Toninha, o peixe-espada tinha uma importância mais baixa no passado, tornando-se, atualmente, uma das espécies de maior importância na dieta da Toninha. Estes valores sugerem que mudanças na dieta da Toninha acompanharam variações na disponibilidade de algumas presas exploradas pela pesca comercial.
Embora os efeitos dessas mudanças marcantes na dieta da Toninha sejam ainda desconhecidos, as implicações energéticas dessas alterações sobre a espécie podem ser preocupantes. Estes resultados demonstram também que a Toninha pode ser utilizada como um bioindicador das tendências no recrutamento dos estoques pesqueiros.
Derramamentos de petróleo em áreas costeiras têm afetado diversas espécies marinhas (e.g. pinguins, lobos e leões-marinhos), mas seus possíveis efeitos sobre a Toninha são desconhecidos.
Elementos-traço (Ag, As, Cd, Cu, Hg, Mn, Pb, Se e Zn) e poluentes orgânico-persistentes (POPs), em especial as bifenilas policloradas e pesticidas clorados, já foram detectados em tecidos de Toninhas.
De modo geral, os níveis de contaminantes encontrados são relativamente baixos quando comparados a concentrações registradas em golfinhos do Hemisfério Norte. Condições ambientais (locais mais ou menos poluídos) e preferências alimentares (por exemplo, maior ingestão de peixes juvenis) podem influenciar estas concentrações. Como exemplo, de modo geral, foram detectadas maiores concentrações de mercúrio total e mercúrio orgânico nas populações do Rio Grande do Sul do que nas do Rio de Janeiro.
A ingestão de plásticos por cetáceos tem sido uma causa de preocupação mundial e a análise do conteúdo estomacal da Toninha tem mostrado que a espécie é também vulnerável à ingestão de vários tipos de resíduos, incluindo pedaços de redes e linhas de pesca.
As causas de mortalidade natural das Toninhas ainda são pouco estudadas. É conhecida a
predação por parte de algumas espécies de tubarões e de orcas.
Com relação a doenças, estudos realizados na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (LAPCOM, FMVZ, USP), analisaram tecidos de diferentes órgãos, sangue, fluidos e swabs colhidos durante necropsias. Estes estudos revelaram os pulmões como foco principal das lesões onde foram observados edema, enfisema e congestão. Tais lesões são compatíveis com as descritas em outras espécies que também vieram a óbito por asfixia após a captura acidental em rede de pesca. Estudos recentes registraram também alterações na musculatura que podem comprometer a função cardíaca e cristais de colesterol no parênquima pulmonar.
Já foram isolados os seguintes microorganismos: Plesiomonas shigelloides, Aeromonadaceae Pseudomonas aeruginosa, Vibrio spp., Aeromonas spp. (bactérias), Micrococcus spp. (fungo). Vários destes organismos são considerados oportunistas, ocorrem na microbiota de animais saudáveis e podem causar lesões em animais com baixa imunidade. Em alguns casos foi possível relacionar a ocorrência do microorganismo com lesões, como, por exemplo, no caso de P. aeruginosa, que pode ter causado a morte por septicemia de um filhote recém nascido de Toninha em São Paulo.
A fauna parasitária da espécie tem revelado diferenças entre as populações. As Toninhas apresentam diferentes helmintofaunas ao longo da distribuição, que podem ser compostas de uma ou mais espécies de parasitos, principalmente nematóides, trematóides e acantocéfalos. Uma avaliação contínua dessas infecções parasitárias e outras doenças poderá determinar seu papel na condição de saúde das Toninhas.
Geralmente observam-se indivíduos solitários ou grupos de 2 a 5 indivíduos, podendo, no entanto, formar grupos com mais de 10 indivíduos, principalmente durante atividades de alimentação e socialização. A espécie tende a evitar aproximação de embarcações motorizadas, e a execução de comportamentos aéreos é incomum.
O primeiro rastreamento de Toninhas com equipamentos remotos foi conduzido em 2005, na Baía Samborombon, desembocadura do Rio La Plata, na Província de Buenos Aires, Argentina. Naquela ocasião utilizaram-se transmissores VHF. Mais recentemente transmissores satelitais foram usados para o rastreamento de Toninhas nas Baía San Blas e Samborombon.
Todos os indivíduos rastreados por satélite demonstraram movimentos localizados e pequenas áreas de vida entre 150 e 345 km2 onde há intensa atividade de pesca artesanal. Estas informações ajudam a identificar as áreas preferenciais das Toninhas e propor áreas de pesca que tenham pouca ou nenhuma sobreposição com a distribuição dos animais.
Um detalhado estudo em campo com a espécie foi também realizado na Baía da Babitonga, SC. Nesta área a Toninha é observada ao longo do ano e apresenta áreas preferenciais para forrageamento e socialização. A ausência de registros na entrada da baía sugerem que essa população seja residente e, recentemente, cinco animais receberam transmissores satelitais para confirmar esta hipótese.
Verifica-se a necessidade de maior implementação de programas de educação ambiental junto às comunidades pesqueiras, visando ao maior entendimento e participação dessas comunidades na conservação da espécie. Estes programas devem contemplar a elaboração e distribuição de cartilhas, folhetos, cartazes, camisetas, bonés, vídeos e jogos educativos, assim como a realização de palestras e eventos interativos (encontros, exposições e feiras culturais) e se estender às escolas, associações de bairro e Colônias de Pescadores.
Também é fundamental buscar o envolvimento de órgãos federais e estaduais nestas iniciativas por meio de apoio político e/ou financeiro, transformando campanhas de conservação da espécie em atividades de responsabilidade nacional.
A maior ameaça para a Toninha é, sem dúvida, a captura acidental em redes de pesca ao longo de toda sua distribuição. Além disso, também sofrem com a degradação do seu habitat e a depleção dos estoques pesqueiros que causam variações na sua dieta.
A espécie é a única na Lista Nacional das Espécies Brasileiras Ameaçadas de Extinção do IBAMA-MMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Ministério do Meio Ambiente) e também consta de outras listas de espécies ameaçadas e é considerada um dos pequenos cetáceos mais ameaçados do mundo pela WWF (The World Wide Fund for Nature).
Faz parte do Apêndice I e II da CMS (Convention for Migratory Species) e está listada no Apêndice II do CITES (Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora).
Aparece como vulnerável na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da IUCN (International Union for Conservation of Nature and Natural Resources), baseado em uma suspeita de declínio de 30% em andamento ao longo de três gerações que deve aumentar devido à expansão da pesca e falta de medidas mitigadoras.
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